e reproduzo parte de um email que recebi, agora a pouco, de um grande amigo que há muito tempo não nos falamos sobre as coisas que costumávamos falar quando éramos mais juvenis e fazíamos bons quarteirões de coisas. fui pego desprevenido nesta madrugada em que volto revolto da cachaça, sem que o gole tenha realmente sido dado.
"E passou o tempo até que houvesse uma resposta...
Porque vêm tanta coisa misturada. Um pouco de culpa, de desculpa, de acusação, de lamentação, de auto comiseração, um pouco de tudo e um pouco de nada.
Lamento muito as mentiras que contamos para nós mesmos (e continuamos contando). E se minha personalidade carente e manipuladora nunca te deixou perceber o tamanho da troca. Sei sim, que carrego e vou carregar para o resto de meus dias um pedaço dos teus olhos, de teus ombros, de tua vergonha, de tua coragem, de tuas malícias.
Acho que é meio assim que funciona quando duas pessoas tem este tipo de encontro. Elas se dão e alguém assume a liderança, momentânea, rotineira, esparsa. Ou não. Ou é apenas a vista de um ponto em um momento qualquer. Os Beatles sempre foram teus. John Lennon também, mesmo caindo dentro de mim da maneira que caiu. Ouvir música no escuro era teu. A casa do quarto andar e daquela bendita rua cujo nome fugiu neste momento também. A família legal, o padrinho, a mãe, os tios, os avós, os primos também. Tinha tantas coisas que eram minhas através de tua posse que nem sei numerar ou precisar. Precisava fazer parte. Precisava se alguma coisa mais perto. Pelo menos ser um primo. Pois é. Por aquelas épocas ainda não fazia idéia do tamanho do buraco dentro de mim. Mas acho que funciona deste jeito. Damos pedaços para receber outros e trocamos buracos. O tamanho afeta as relações.
Sei também que as vezes cobramos muito dos outros o que nos faltou ou nos frustrou por alguma razão. Fiz isso e fui vítima disso por minhas próprias mãos.
Também vou te contar alguns segredos...
Você foi intolerante em várias conversas. Sim. Falou um monte de merdas que me lembro até hoje (em também me lembro de algumas minhas bem cabeludas). Fez umas besteiras dignas de não serem lembradas. Mas, e daí? Faz parte. O saldo é sempre positivo. Ou quase sempre.
Entender o buraco, perceber as diferenças e aceitar os defeitos faz parte da evolução (esta palavra é muito legal, Darwin foi um dos melhores) de um relacionamento... Aliás... De qualquer relação. É um princípio ecológico. Anterior as besteiras que nós elocubramos.
A próxima vida?
Só depois de morrer.
Esta foi sempre a mesma. A diferença é que só agora começo a entender os buracos. A respeitá-los. A conviver com eles. E até mesmo, em alguns casos, a preenchê-los de verdade. Quero sempre acreditar que não é tarde demais.
E não será.
Este é o melhor e o pior momento da minha história. Tudo de difícil no meio de tudo que é bom. Precisei todo o tempo de conforto, de força, de ajuda... Até mesmo pedi de alguma forma. Caramba. Sem noção.
Estive por aqui o tempo todo.
Em muitas ocasiões, esperando...
Uma voz, uma palavra escrita, o tal do abraço.
Olhar para trás é bom. Mas devemos sempre lembrar que há outros fazendo isso. Nem mesmo todos os olhares juntos podem construir a verdade de um momento. Ela não existe mais a partir do momento que aconteceu.
O individualista aqui sempre sentiu muita falta das pessoas que lhe eram caras. E meu coração continuará fiel a suas memórias até o fim de meus dias. Mesmo que só sobre a rapa da situação. Ou a fumaça dos sonhos cantados juntos. Ou a vaga lembrança de "amigos de outros tempos" (exemplo de frase mal pensada e bem dolorida).
E...
Ainda vou olhar para trás... Depois, bem depois... E dizer, do alto de minha velhice juvenil... "Bons tempos aqueles".
Merda, né.
Talvez adubo.
(O Ministério da Loucura adverte: este texto não é uma acusação, apenas mais um desabafo)"
8 comentários:
!
sim, !
Adorei a carta, o modo de expressão e toda força e tensão que salta nas palavras dele a respeito da relação de vocês dois. Grande momento!
bonita entrega dos dois... desabafo de um lado e descoberta de outro! marcante!
amei!!!!!!
tempos bons aqueles....
acho q fui feliz demais gracas a vc e nossa ^turminha^....hehehhee.
posso dizer q fui muito feliz e q vc fez parte dessa felicidade, assim como os outros caras q sabem quem sao.
Eterno, esse eh vc, e assim sera em toda minha vida. Longe, perto, distante, ausente.....fodase!
marcelao
oi, gil.
não ouso comentar o email do teu amigo, mas aproveito para agradecer seu comentário no meu blog.
pode até ser um sortilégio, já ouviu falar em sincronicidade?
espero que essa energia continue indo e voltando.
ô Gil, coloca um espaço pra fazer comentários debaixo das fotos à esquerda da página do teu blog! Cheguei ontem em casa, devia ser umas quatro da manhã, e vi a foto da nossa noite naquele agosto/setembro na Trindade. Sincronia total!
Luís, infelizmente o blog não possibilita isso. mas passei a madrugada acordado e revendo, lendo e escaramunchando uma porção de saudades boas! grande encontro! grande sintonia!
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