Velho Braz,
hoje você estaria completando seus 90 anos! deu uma saudade danada de você ontem. vi um filme bem despretensioso (acho que por isso foi ignorado pela crítica tupiniquim) que se chama saens peña. te vi andando por aqueles cruzamentos de ruas em que você tantas vezes atravessou sem olhar se vinha ou não algum automóvel. abaixava ou levantava a cabeça e ía. lembro de suas voltas pela tijuca de ônibus ou a pé. do seu desprezo pelo metrô, dizendo que era um meio de transporte sem graça, pois não tinha paisagem ou cidade ali. lembro das feiras de sexta-feira lá na pracinha xavier de brito. aquele cheiro de frutas e verduras penduradas em barracas e caixotes. dos feirantes gritando a xepa do dia. a tijuca continua a mesma dos tempos em que você se fazia o mais tijucano dos capixabas.
teu flamengo, no último domingo, venceu um jogo contra o fluminense digno de uma crônica de nelson rodrigues.
dizem, os do rio, que o calor por lá está um absurdo. o próprio inferno! verão exigente este! aliás, como sempre foi!
a tua velha tá cada vez mais bonita. abre o olho, pois ela tá com um fisioterapeuta bem novinho. e diz ela que tá adorando! não sei o que isso significa, mas fica de olho, velho! a meméia não tá morta não!
tua filha agora é aposentada. será que terá mais tempo pra ela agora? pois dizem que o filho dela tá tomando juízo! o teu bisneto está no rio. seu filho braz agora é avô, mas isso você já sabia! ele tá igual a você. o nilson tá cada vez mais ranzinza. dizem que os macacos quando envelhecem ficam violentos ou se isolam (agora não lembro se é um ou outro ou ambos).
por esses dias tô indo a jerônimo monteiro tirar bastante fotos e conversar com o povo de lá. pode deixar que mando lembranças.
meu carnaval será no rio. agora tem bloco de rua pra tudo que é lado. acredito que me perderei em alguns. a casa da tijuca estará cheia. talvez até um pudim sobre pra nós por lá.
aquela tua cadeira antiga tá indo pra futura residência da filha. presente da mãe dela.
tenho escrito bastante. lido também. dormindo bem tarde e acordando mais tarde ainda. começo novamente a adotar a madrugada como um lugar que sempre me escolheu como seu morador.
um tempo novo tá me começando aqui, velho. só mesmo sem muita paciência pros egos (aliás, nunca tive) desse tempo individualista e comercializável. mas tem muita gente boa que faz esse tempo valer a pena também.
o caymmi tá tocando aqui, mas na voz da gal costa, não da amelinha. imagina! caymmi na voz de amelinha... você iria ao gozo instantâneo!
hoje beberei você. vou lá em itapoã pra ver como andam as coisas por lá. naquela praia que tem tanta lembrança bonita de vocês. lembro de você com sungão preto e boiando naquele mar bonito. até a meméia tava na praia e de maiô preto! lembra?
outro dia vi o niemeyer e seus 103 anos! velho, nunca achei ele parecido contigo, mas acho que a idade faz com que acabemos nos parecendo. te vi ali no meio das expressões de rosto. e um cansaço da carcaça física.
é, velho, no mais o mundo vai correndo. to indo nessa dar uma caminhada e ver como as pessoas estão se comportando pelas ruas. saber com elas qual é o papo de hoje e a mentira de amanhã.
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