quarta-feira, 5 de maio de 2010

do feliz

do feliz era um cara muito feliz. do caralho, como muitos diziam. diziam pra dizer que era o cara mais feliz da rua. o feliz da rua. feliz da vida. corria. mordia. vivia. o feliz era um cara daqueles sem dia ruim. visitava bancas de jornal. comia todos os caras que lhe vinham com papos academicistas. pois todos ali adoravam das suas peripécias orgásticas. era um sujeito do barulho. feliz era assim. sem muitas palavras. observador e riso fácil. irônico, se fosse preciso. sarcástico com tamanha sedução. sim, a sedução era um dos seus primores. dizia uma prima que uma vez feliz a comera sem que ela mesma notasse. quando viu, era ela olhando pras estrelas e subindo, nua, pelos postes das ruas que circundavam aquela velha cidade. feliz não se acanhava. ria. vadiava que era um primor. gostava de música. gostava de jazz. mas achava aqueles entendidos do jazz um tanto quanto afeitos à frescura. um pé no saco. jazz é jazz, dizia. no mais, feliz era um ardor. uma figura ímpar. não havia infelicidade que o mordesse. nem quando quiseram dele tirar o riso. sim, tentavam diversas, inúmeras vezes. feliz era feroz com isso. não tinha paciência com esses crápulas. mas seguia, sempre seguiu de cidade em cidade. conhecendo. visitando. amando a quem lhe desse caminho. feliz não sujava as botas. ria, se cagava, mas ria sem sujar as botas. isso era, para ele, uma das grandes façanhas. um mérito digno de um homem. dizem que morreu sorrindo. não se sabe se por felicidade ou mesmo mera contração muscular.

2 comentários:

Infesta disse...

as botas! ...não sei se me deixou feliz, mas me arrancou alguns sorrisos...

Gil Maulin disse...

sim, feliz era um merda que não tirava as botas pra cagar!