palavrões de 2011

nomeio o ano que passará como o ano das virtudes. dos erros acolhidos. das capas já usadas e rasgadas. das malas já desfeitas e prontas para serem usadas novamente. elejo algumas amizades que são duradouras. alguns grandes encontros que já se fazem mais do que saudade. dos desencontros... das promessas. dos meus vexames. da ironia combativa à inanição do espírito crítico. daquilo que o tempo já faz passar pra virar outra coisa que não mais instante. os telefones que não existem mais, tal como as cartas. a memória que fica. a conversa antiga. o litro de álcool. a mesa composta em simpatias. os rasgos de amor. a escrita nas tripas coração. as mudanças de luas. os livros comprados e deixados pra que outros também leiam. as músicas feitas e cancionadas pro dia se sustentar melhor. o silêncio de um quarto alugado no interior do país. as matas. os antigos. as casas de estuque. o remendo. as visitas que foram bem-vindas. os recados que foram tantos. os segredos. as rasuras. os desenhos que não fiz. a paixão que sempre reclamo. os cães que sempre me ladram e acompanham. esses amores sempre no coração. a mesma versão de uma rima vã. as distâncias. os continentes de egos. os destraves da língua. a raiva. a mordida. o lixo. a frescura. a ranhura. as unhas cortadas. os cabelos picados em máquina 2. a barba sempre crescida. os 40 já chegados. o sempre novo gozo de risadas. o banho. a chuva e esse sol na moleira de viajante. as poucas casas que visitei e as que não quis visitar. enfim, os pretos de jerônimo monteiro servem como a melhor metáfora para dizer que o tempo é uma busca inteira para se dizer, no fim das coisas, que a vida vale a pena, seja ela o que for daqui pra lá.