sábado, 21 de julho de 2012

a belina de humberto


era mais uma vez em que esperava o final de semana acontecer. isso com mais ou menos pouca dúzia de anos. toda uma vida ainda para se saber. eram sábados e domingos a bordo de uma certa belina branca que tempos depois era cinza. corríamos já de manhã ao encontro do tal automóvel. às vezes quatro, cinco, seis, muitas vezes nove pessoas. geralmente dois adultos e o resto de crianças metidas a sabedoras do mundo a sua volta dentro daquele pequeno-enorme espaço-lugar. sim, nove pessoas, pois não esqueçamos que a belina era um carro que tinha um bom bagageiro. ainda mais pra crianças sabedoras do mundo no seu pequeno corpo entre dez e treze anos de idade. estávamos todos lá. muitas vezes percorríamos a estrada da tijuca para o alto da boa vista em direção à praia da barra só pra vislumbrar um pouco o tamanho das curvas daquele caminho. a palavra, insisto, é caminho: trilha. andar numa velocidade em que a belina dificilmente passava dos 60 km/h! forçar a máquina nada tinha a ver com o estado de espírito que corria ali dentro. precisávamos de calma. as coisas acontecem bem devagar! ou aconteciam! eita mundo mais cínico! correr já era preciso, mas não dentro daquele espaço metálico sobre 4 rodas! mas voltemos a falar do caminho. eram subidas, curvas e um tanto de mato ao redor. um bando de crianças pouco sabedoras do mundo. mas tinha ruth e humberto nos mostrando os caminhos. mas tinha a destemida belina bebendo combustível pra se fazer um tanto de estradas. éramos nós ali na condição de passageiros iniciantes e provocados pela nossa função natural e essencial de infância. era outro tempo. bem que poderia ser novamente esse tempo de agora. as nossas cheganças frente uma enormidade de fundos e escuros que estavam por vir mais adiante. e aquela belina que já foi branca e cinza é uma metáfora que nos sinaliza um tempo de memória. dos montantes de escombros. um tempo de volta. é nossa máquina do tempo. lá já estiveram, além de ruth e humberto, sol, jean, san, beto, mauro, andréa, marquinhos, victor, andreas, lucas, ana paula, ana luíza, katia, flávia, cacá, gil, leonardo, entre outras criaturas que se faziam entre uma parada e outra daquele automóvel. há tempos que essa belina não existe mais. há tempos que fiz uma última viagem já em outro tempo com outra geração a bordo do velho veículo. há tempos que tenho saudades de uma penca de coisas. agora acrescida a mais essa, principalmente pela falta que me faz a belina diante daquela bagunça de crianças-adolescentes que se fizeram estória de uma hora pra outra. do velho humberto que disse chega pra tudo isso e foi para outras paragens quem sabe mais distantes e interessantes das que ele nos ensinou a fazer logo quando tudo era mais lúdico e simples.


texto escrito num rompante de saudade depois que soube do falecimento do seu humberto.

Florianópolis, 11 de abril de 2006.

Um comentário:

MANGIBRE disse...

Bonito! Mas fiquei triste.