não sou daquele tempo dos realejos
que subitamente reaprendiam a soletrar alguma esperança
à moça de tranças e vestido de chita.
não sou do tempo das pipas e rabiolas que espalhavam cores
no ar para assim cruzarem umas nas outras invocando
uma dança juvenil.
não sou mesmo do tempo das criaturas que saltavam pelas árvores em busca
dos galhos mais altos, não tanto pelo sabor da fruta, mas pela invenção da estória.
não sou desse tempo dos homens e suas caligrafias desenhadas
em cartas e postais às suas paixões noturnas.
não sou do tempo em que as árvores
eram cultivadas mais que a argamassa e o cano
de escape dos automóveis.
não pertenço a esse tempo imbecil
em que a veleidade é moeda corrente
entre os imbecis que assim se fazem.
não sou deste tempo em que a hora morta
é o tapume dos egos que silenciam toda possibilidade
de beleza que apenas encontra e enxerga o próprio espelho.
não sou deste tempo vagabundo em que a felicidade é uma ditadura pela busca de frascos repletos de naftalinas e soda caustica que mais lembram um museu humano de cera onde se encontra a possibilidade plástica do sorriso.
2 comentários:
não, não é gil...
no entanto, é.
beijo...
sim, não sou, mas sou sendo...
beijo
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