quinta-feira, 19 de março de 2009

escrita diária

minha falsa literatura convem numa mistura de letra de música e versinhos fáceis. convertem-se num motor de diabruras semanticas que mais combinam com letreiros ou pára-choques de caminhao. isso não quer dizer que esteja me desfazendo do que ela é. pelo contrário. vejo a relutancia com a escrita de uma ostra. incapaz de se abrir a quem está próximo. da literatura culta e enciclopédica. nao cito pero vaz de caminha ou camões. nem odair josé ou o profeta elias. ela se despoja dessa condição. nao está acima das propagandas da nike ou do último show de tete espindola. sim, é rala. pois ainda me consumo de verborragia pra querer e poder dizer o que me falta nesta escrita. olha que leio alguma coisa, mesmo as diferentes orelhas e seborréias de livros. mas quem sou eu no meio delas? quais eus se repetem? sou repetitivo. um mantra contínuo pra que eu mesmo possa me escutar. nao escrevo pra fulana ou sicrano, mas para mim mesmo, num egoísmo agudo e sincero, e também altruísta. rumino a falta de uma idéia ou a escapatória de um sentimento. como é difícil nao se repetir. aqui, todos os meus silêncios. os meus cantos. e de alguma forma, ainda assim, não sei pra que vim por aqui. nao mergulho no caos, pois daria muito trabalho. sou, até certo modo, organizado. as complicações e cinismos diários também me servem como redençao à escrita covarde daqueles que não se escrevem. eu não me escrevo. pois estou longe desta meta. apenas repito e repito e repito dessa fraqueza de ser cotidiano. é uma escrita cotidiana. fajuta. meia-boca. como já ouvi, confessional. o que tira, realmente, o mérito da substanciaçao do ser. aos diabos que me carreguem com isso. poderia muito bem botar fogo ou mesmo censurar toda essa fala. mas graças a deus e aos meus infernos deixo que me diga. aqui estou me dizendo. colhendo diferentes de mim. diferentes situaçoes. maturações. combinaçoes de relaçoes. pra que uma vela se acenda. um jogo termine. uma vida recomece. um amor nao se iluda. uma paixao nao se acabe. uma amizade não sucumba. minha escrita é esta porta-de-cadeia. um guarda-chuva sentimental. um armário de gentes e sensaçoes. um pedaço vago. um pedaço de bolo. um pau duro. um dia a mais. um futuro disposto. um passado trancafiado. um quarto de livros que não serão lidos. um tempo de coisas que mais se pareçam comigo. menos angustia. menos acento. uma música de john lennon com letra de dorival caymmi.

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