quinta-feira, 27 de outubro de 2011

bêbado nu

estávamos num show de lô borges. no embalo do circo voador de 1989. canções escutadas pela primeira vez daquele mineiro ainda desconhecido para mim e apresentado pelo amigo jean. ele que comprara um vinil do cantor/compositor. no meio das tantas músicas oferecidas e ovacionadas pela plateia, de repente começamos a gritar: bêbado nu. bêbado nu. pedíamos uma música que não existia. encaramos a plateia no meio de fumaças e escuros, e repetíamos: bêbado nu. ninguém nos ouvia. mas nos divertíamos pelo fato da brincadeira nos divertir. éramos aquelas duas crianças improvisando vida no meio de tantas que ali se faziam. eram mais velhos e mais jovens do que nós somos hoje. não importava a incoerência do pedido. havia ali o espaço do lúdico. da molecagem. aquele bêbado nu virou depois poesia feita em mesa de bar. em guardanapo de papel e caneta bic. poesia partilhada. a tijuca partilhada. a praça saens pena partilhada. caminhada. os muros. na cidade que não volta. éramos os lugares que escolhíamos para trafegar entre os pés caminhados. explosões de cores. os jornais. as revistas. eram os vinis que ainda existiam. a agulha cega que corria pelas linhas de uma velha vitrola. o mundo se expandia aos nossos olhares. e o bêbado nu que parece nos acompanhar até hoje como que sem idade e ainda a gritar.

3 comentários:

Luís Filipe disse...

Bêbado nu! Toca aí, Lô Borges!!!!

Luís Filipe disse...

Acho que o Lô Borges toparia fazer uma música pra poesia que vocês fizeram! Bêbado nu no repertório de seu próximo disco!

Gil Maulin disse...

há uma campanha pra isso! rs